segunda-feira, 28 de março de 2011


Éramos três irmãs pequenas.

Uma vez ao mês os pais iam ao supermercado fazer a compra para abastecer a casa. Eram tempos de long plays, os caros LPs que a gente ganhava somente em ocasiões especiais.


Não sei se era Natal, aniversário, talvez um momento de generosidade e agrado dos pais, mas me lembro da gente olhando pela vidraça o carro adentrar a garagem e meu pai trazendo dois LPs: Peter Frampton para mim, Queen para outra irmã . A caçula ainda não tinhas estas preferências.

Uma segunda-feira de festa, nossos pijamas no tapete da sala, um LP inteiro, de cada vez.


Quando a saída deles era mais longa e a gente só se encontrava na manhã seguinte, arrumávamos a mesa do café da manhã: cinco xícaras, cinco pires, Nescau, leite, pãozinho e às vezes um bilhete de boas vindas, escrevendo saudade.


Hoje arrumei a mesa do café da manhã para meus filhos. Com bilhete.

Ao estender a toalha, levantou-se esta lembrança. Escrevo esta saudade.


arte: Van Gogh

quarta-feira, 23 de março de 2011


"Corrupta com requintes me deixa o teu amor"


(Ana Cristina César)
arte: Amadeo Modigliani

domingo, 20 de março de 2011



Balada De Gisberta
Composição: Pedro Abrunhosa



Perdi-me do nome,

Hoje podes chamar-me de tua,

Dancei em palácios,

Hoje danço na rua.

Vesti-me de sonhos,

Hoje visto as bermas da estrada,

De que serve voltar

Quando se volta pro nada

. Eu não sei se um Anjo me chama,

Eu não sei dos mil homens na cama

E o céu não pode esperar

.Eu não sei se a noite me leva,

Eu não ouço o meu grito na treva,

E o fim vem-me buscar.

Sambei na avenida,

No escuro fui porta-estandarte,

Apagaram-se as luzes

É o futuro que parte

Escrevi o desejo

Corações que já esqueci

Com sedas matei

E com ferros morri


Eu não sei se um Anjo me chama

Eu não sei dos mil homens na cama

E o céu não pode esperar


Eu não sei se a noite me leva

Eu não ouço o meu grito na treva

E o fim vem me buscar


Trouxe pouco

Levo menos

E a distância até ao fundo é tão pequena

O fundo, é tão pequena

A queda

E o amor é tão longe

O amor é tão longe

E a dor é tão perto



Poesia








"Difícil não é escrever poesia.

Difícil é encontrá-la no coração."




( do filme Poesia, de Lee Chang-Dong)

sexta-feira, 18 de março de 2011


Sexta-feira
é dia de romance.

Mas ele nao chegou
ainda.



arte: Gustav Klimt

terça-feira, 15 de março de 2011


e a natureza se zanga

no jardim do mundo






arte: Ogata Korin

domingo, 13 de março de 2011

Plenitude


A criança

sorri Deus.



fotografia: Haruo Ohara

sexta-feira, 11 de março de 2011

predestinado


o acaso

abre suas asas

num vôo certeiro



arte: Gustav Kimt

terça-feira, 8 de março de 2011

De ouro e sol


O entardecer distante da metrópole
é mais luminoso.
Doura o gramado e os cabelos,
acolhe a revoada dos pássaros,
tinge o céu de asas.

Esta tela é agora como um quadro, um espelho.
O sol aquece minhas costas,
contorna minha aura.
Faz lembrar que meu tempo não é quando
mas sempre
e que a inspiração é pretérito, é presente, é será.



arte: Monet

felicidades


"A felicidade é como a pluma
que o vento vai levando pelo ar
voa tão leve, mas tem a vida breve
precisa que haja vento sem parar...

...a felicidade é como gota de orvalho numa pétala de flor
brilha tranqüila, depois de leve oscila
e cai como uma lágrima de amor"


(Tom Jobim e Vinícius de Moraes)


arte:Degas

Lamento


no silêncio do luto
a rede amarela
é sol
que se pôs
tão brilhante
antes mesmo de nascer





arte: Edward Hooper

domingo, 6 de março de 2011

casulo


e no silêncio do ventre
borboleta se faz

sábado, 5 de março de 2011

Pressentimento

Ai, ardido peito!
Quem irá entender o teu segredo?
Quem irá pousar em teu destino?
E, depois, morrer em teu amor?
Ai, mas quem virá?
Me pergunto a toda hora
E a resposta é o silêncio
Que atravessa a madrugada...

Vem, meu novo amor
Vou deixar a casa aberta
Já escuto os teus passos
Procurando o meu abrigo;
Vem, que o sol raiou
Os jardins estão florindo
Tudo faz pressentimento
Que este é o tempo ansiado
De se ter felicidade.



(roberta sá)

terça-feira, 1 de março de 2011

Outono


folhas

vestem-se

despem-se

juntam-se à terra

renascem

arte: Claude Monet