domingo, 16 de maio de 2010

Com desenfreado afeto


Tomo para mim as dores do mundo. Não assisto mais a noticiários, não me habituo a tragédias. Não que eu seja tão sensível ou tão altruísta. Talvez eu ainda não tenha aprendido a separar-me do outro.

Diante da dor de um familiar eu abraço a causa com raiva e afeto. Eu me incomodo, tomo partido. Sei que a imparcialidade não dói mas minha paixão tem partido,levanta a bandeira da torcida, não fica no banco reserva.

Ainda não aprendi a ser metade. Ainda não aprendi a ser o inteiro, isolado.
Tento me adestrar ao que me poderia ser mais confortável e eliminar as olheiras da noite mal dormida.

Creio tanto no outro que me esfacelo em tantos pedaços quanto a suposta altura daquele que me fiz acreditar. Minha crença precisa aprender a crer.

Quem sabe um dia eu possa ouvir em silêncio. O silêncio maduro do não comprometimento. Quem sabe eu possa ligar a televisão com a distância necessária. Quisera um dia não mais precisar da distância.




arte: Salvador Dali

2 comentários:

Noemi disse...

Adorei. Um momento de sossego no meio do turbilhão.
Abraços

Débora Tavares disse...

Quem bom que a palavra tenha essa permissão. Obrigada1

Abs,